terça-feira, 16 de novembro de 2010

Penetrando inacabados mares: a poesia metafísica e a dor de existir

O percurso é iniciado após "um movimento diferente, em que o impulso de prosseguir acompanha o passo do paladar". O périplo proporto transita entre a abstração do pensamento e a materialidade dos objetos, sendo entrecortado por sensações e experimentações que se dão no exato momento em que se penetra os inacabados mares e se mergulha na manualidade dos sentidos do universo poético de Casé Lontra Marques. Aos navegantes destes mares um alerta: as águas são densas e o pensamento espesso. O tempo indica a possibilidade de se quebrarem costelas e vidraças - é o que nos aponta a palavra engenhosamente lavrada.
Na enigmática escrita de Casé deparamo-nos com elementos chave de sua poética: abstração, concretude, palavra, corpo, acidez, suavidade, lucidez e convulsão, sendo-nos apresentadas sinuosas pedras que são arrebentadas pela argumentação. Por entre paradoxos e antíteses, o movimento, um dos temas centrais em Mares inacabados, é perpassados pelos poemas e versos, assim como a penetração dos sentidos que acaba por universalizar a experiência pessoal. O drama da existência revela uma provável influência das idéias pessimistas de Schopenhauer, além, é claro, de algumas posturas de sua poesia: o desejo de transcender a matéria e integrar-se através da experimentação no mundo das coisas.
Ao mergulhar pelos Mares inacabados, o leitor de Casé entra em contato com a tessitura de um universo poético sobremodo peculiar, lambuzando-se de sensações plurissignificantes através de uma poesia que mais parece um tratado filosófico.